quinta-feira, 9 de dezembro de 2004

Cinza

Capricorniana em inferno astral é o seguinte...

Só por hoje cinza é minha cor favorita...

- E a senhorita, deseja algo para beber?

Coitado do garçom, ficou esperando resposta, e eu nem havia dado conta de que ele estava ali. Apenas olhava para todas as coisas à volta, indiferente ao meu acompanhante irritado, sentado na minha frente.

- Querida, peça algo! O homem quer levar os pedidos!

Ele falava com sua característica voz contida, de quem tem raiva, mas tem também educação demais para falar alto. Nunca cheguei a me irritar por ele ter medo de ser ridículo de vez em quando. Quer dizer, todos precisam de um pouco de personalidade, certo?

- Tudo bem, senhor. Se a senhora não escolheu ainda, posso voltar em alguns minutos...
- Não precisa, ela vai beber uma Vodka com limão e gelo, por favor.


Apesar de estar ainda alheia ao diálogo que aconteceu ao meu redor, não pude ignorar o copo de vodka que o garçom pousou à minha frente. Cheira álcool puro, pensei.

Só mesmo aquele cheiro de álcool para me arrancar das paredes cinzentas daquele lugar. E mesmo meu amante parecia não ter notado meu fascínio pelo cinza. Aliás, até hoje ele não entende meu fascínio por todas as coisas.

E enquanto ele se escondia atrás do receio, eu flutuava. Vivia mais. E isso ele nunca pôde aceitar. Este também acabou partindo. E eu não precisei beber uma gota de vodka...

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